A vida de João Firmino Cabral.
Por Osmário Santos, em 18/02/2013.
João Firmino Cabral nasceu a 1º de janeiro de 1940, na
cidade de Itabaiana/SE. Seus pais: Pedro Firmino Cabral e Tersilhia da
Conceição.
Seu pai foi repentista na cidade de Itabaiana e sustentou a
família cantando embolada nas feiras de Itabaiana, Aracaju e nas cidades de
Pernambuco, Paraíba e Ceará. Em vez de viola transmitia sua linguagem poética
ao som do ganzá. Morreu quando o filho contava com 11 anos de idade.
João Firmino passou a ser criado pelo repentista Manoel de
Almeida Filho, um nome de destaque na literatura de cordel em Sergipe e no
Brasil. Aos 14 anos de idade já estava vendendo os clássicos livretos de
literatura de cordel de autoria de Manoel de Almeida.
O cordelista instalava seu pequeno serviço de auto falante
na proximidade do relógio do Mercado Antônio Franco e ficava cantado suas
obras. No mesmo local, outros poetas da época marcavam presença na área na
venda de seus trabalhos, a exemplo de Pedro Armando dos Santos, falecido há
mais de 30 anos, Genésio Gonçalves de Jesus, José Aristides e outros.
João Firmino conseguiu vender 300 folhetos com as obras de
Manoel de Almeida Filho, na feira da cidade de Itabaiana. Chegou num sábado,
com chapéu de palha na cabeça, alpercata de matuto e com roupa. Tudo devia
pesar 30 quilos. De imediato começou a cantar os livros de cordel. Ao ouvir o
menino cantando, as pessoas foram chegando e ao final do trabalho uma boa
venda. No domingo estava João Firmino vendendo os folhetos de cordel na feira
de Areia Branca e na segunda-feira na feira de Ribeirópolis
Ao retornar a Aracaju, Firmino disse a Manoel de Almeida que
faltou pouco para vender todos os folhetos e ouviu do mestre que ele tinha
todas as condições para ter sucesso na vida com o cordel. Na semana seguinte,
em vez de 300, Manoel de Almeida entregou 500 livros e todos foram vendidos.
Almeida colocou no bolso o apurado pela venda e deu ao menino João Firmino, a
devida comissão pelas vendas.
João fez uma feirinha no mercado de Aracaju e levou para sua
mãe em São Cristóvão. Voltou para Aracaju e continuou a trabalhar com o poeta,
estendendo o número de cidades do interior sergipano em suas vendas. Se deu bem
nas feiras de Lagarto, São Cristóvão, Simão Dias e Salgado. Como transporte
para chegar nas cidades, fazia uso de trem ou viajava em cima de caminhão.
Aos 16 anos após pedir consentimento ao Manoel de Almeida,
parte para a cidade de Alagoinhas, na Bahia, para vender folhetos da literatura
de cordel, onde aluga um pequeno quarto e ao retornar resolve fazer seus
folhetos.
“As bravuras de Miguel o valente sem igual” - é o título do
seu primeiro folheto, impresso na cidade de Alagoinhas na tipografia comunista
Vanguarda. Como não sabia como era o processo de impressão, recebeu a ajuda de
um dono da gráfica que fez uso de um clichê já utilizado em outra impressão
para ilustrar a capa do folheto. No livro mais erros ortográficos do que
acertos, mesmo assim, vendeu e bem seu trabalho na cidade baiana.
Na volta a Aracaju mostra seu folheto ao mestre Manoel de
Almeida Filho e dele ouve que seu trabalho estava muito fraco e apresentava
inúmeros erros. Aconselhou que ao escrever um folheto, antes de ir para a
gráfica, deveria passar por uma revisão ortográfica.
Tem como segundo folheto – “A Profecia Sagrada do Padre
Cícero Romão” e para desenvolver o trabalho poético, fez uso das muitas
histórias que sua avó e sua mãe contavam sobre o padre. O livro foi revisado e
impresso em Aracaju, precisamente, na então Tipografia J. Andrade, hoje uma das
mais qualificadas gráficas de Sergipe.
Conta hoje com 56 anos de literatura de cordel também
conhecida no Brasil como folheto, gênero literário popular escrito
frequentemente na forma rimada, originado em relatos .
Já participou de mais de 60 concursos direcionados para a
literatura de cordel. Não esquece do concurso que participou em Aracaju
promovido em 1968 pelo Sesc/Senac e Caixa Econômica reunindo poetas do Nordeste
do Brasil, conquistando o 1º lugar.
Em Serrinha, no Estado da Bahia conquistou o 2º lugar em
concurso. No final de 1968 se inscreveu num concurso em Recife, coordenado por
Ariano Suasuna e conquistou o 1º lugar, disputando com todos os poetas do Norte
e do Nordeste do Brasil. Ainda em Recife conquistou mais outro concurso de
cordel e com direito o prêmio de R $ 3 mil e mais uma publicação de um folheto.
Com sua literatura de cordel percorreu quase todas as
cidades do Nordeste. Até o momento já publicou 450 títulos em literatura de
cordel um número expressivo que mostra de fato, seu valor na literatura de
cordel no Brasil . Tem vários publicados pela Editora Gonzeiro São Paulo.
Na sua banca de cordel no Mercado Antônio Franco, na
proximidade do comércio de flores, sempre marca presença e quando não comparece
é por motivo de saúde, mas é representado pelo filho Joélcio.
Casou com uma jovem da cidade de Ribeira de Pombal, na Bahia
- Carmelita Santana Cabral e com ela teve 10 filhos. Morreram três. Tem sete
filhos: três homens e quatro mulheres – Joécio, Josemir, Josenilson, Maria José
Santana Cabral, Joelma Santana Cabral, Jeane Santana Cabral e Janecelma Santana
Cabral.
Publicado em 21/05/2012 no Jornal da Cidade. Faleceu em 01
de fevereiro de 2013.
Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br
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