sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Julia e Pascoal Maynard

Foto reproduzida do postagem feita por Pascoal Maynard, na página do Facebook/MTéSERGIPE.

Antônia Amorosa e Ludwig Oliveira

Foto reproduzida de postagem feita por Ludwig Oliveira, na página do Facebook/MTéSERGIPE.

Gwendolyn Thompson e Marcelo Ribeiro

Foto reproduzida de postagem feita por Gwendolyn Thompson, 
na página do Facebook/MTéSERGIPE.

Ismar Barreto, Eliezer e Netinho

Ismar Barretto, seu filho Netinho e no centro o cantor e compositor alagoano
Eliezer Setton II,  grande amigo do nosso Ismar.
Foto e legenda reproduzidas de postagem de Pascoal Maynard,
na página do Facebook/MTéSERGIPE

Santo Souza e sua Poesia


Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 26/01/2012.

Santo Souza e sua Poesia.
Por Luíz Antônio Barreto.

É certo que a poesia tem perdido o encanto e os leitores, mas sobrevive como um lastro de sentimento e de reflexão, básico à história humana. Em todas as sociedades a poesia cumpre um papel aglutinador, lúdico, estético, aparentado com a identidade que os povos conquistam no curso da história. Pobre ou rica, a sociedade faz da palavra fragmento de versos e com eles edifica a sensibilidade diante da vida e do mundo que não se explicam em si mesmos. A regra vale para a terra sergipana, berço de grandes poetas e de outros literatos, entre os quais ocupa lugar destacado SANTO SOUZA.

Nascido há exatamente 93 anos (o dia do aniversário é 27 de janeiro), em Riachuelo, fez do cheiro das moendas de açúcar a referência identificadora do lugar, como exaltou os engenhos com seus nomes poéticos. Filho de uma mulher que emergiu da escravidão, SANTO SOUZA foi batizado como José, nos caminhos da vida trocou SANTOS por SANTO e fez do seu nome uma legenda, pela capacidade que teve de entender o mundo e a vida que há nele. Poeta, sempre poeta, trabalhou em muitos ofícios, aprendeu a simplicidade da vida escorrendo pelos fatos e emoções, antes de traçar, com o escopo simbólico das palavras, o discurso com o qual faz a interpretação das coisas do mundo e da vida.

O poeta, com sua obra de mestre, bastou-se no manejo das palavras, desfilando em livros todo o saber que sua reflexão criou. Os livros do poeta são verdadeiros códigos, onde os velhos segredos e longínquas mitologias ganham, revelados, a intimidade dos leitores. O poeta negro de Riachuelo deposita, há várias décadas, nos ouvidos dos sergipanos, a magia que a sua poesia foi capaz de guardar para as posteridades. Livros e mais livros, órficos como uma centelha reveladora, ferramenta decodificadora dos prantos vencidos do passado. SANTO SOUZA é a sua poesia e quase centenário poeta faz da poesia o seu itinerário, a sua comunicação, a construção de sua própria identidade.

SANTO SOUZA ocupa todas as geografias por onde tem vivido, mas é universal com sua obra vasta. O molde de um prêmio Nobel de Literatura lhe cai bem, lhe será justo, e atrelará a geografia da sua história pessoal de sergipano, universalizado na decodificação de todos os saberes transformados em versos e estrofes belos. Aliás, por ser resultado de um talento e uma competência majestosas, a honraria de há muito lhe é devida. E como seria bom ver Riachuelo enfeitada para a festa, testemunhar o poeta calçando os sapatos da sua humildade, empetecado para receber uma homenagem que de há muito lhe pertence. Quem quiser conferir a magnitude da obra santosozeana que abra qualquer dos seus livros, em qualquer página, e leia em voz alta o que está escrito. Não há quem não ouça o efeito das palavras rasgando a nossa ignorância. SANTO SOUZA faz leitura universal das civilizações, mesmo morando na Rua Rio Grande do Sul, no Bairro Siqueira Campos.

Aos 93 anos, rodeado de filhos, e de outros descendentes, o poeta celebra a vida longa e imprevista. Suas saudades de Fia, a mãe, de Mariana, a companheira esbarram na alegria dos sobreviventes, náufragos como ele, na solidão das ausências. Dia de festa para o poeta, risos e abraços, versos libertos pelos cômodos da casa, amigos e admiradores trocando visões de críticos, enquanto uma pequena e velha biblioteca guarda os saberes do mundo, e guarda a ideia emocionada do poeta com seus livros. Os sergipanos, irmãos de penúria e de angústia, que sobreviveram equilibrados na linha do tempo, também estão em festa, porque o poeta não se pertence, não é da casa nem da família, mas sendo de tudo um pouco, ele é um mago com suas palavras penetrantes, reveladoras, lindas como os arco de cores que se formam e se dissipam no transe emocionante da beleza. Do alto do pedestal de sua obra mística, SANTO SOUZA é porta-voz de sofrimentos e angústias, desconfianças e suspeitas, tendo em seu favor a oficina das palavras, moldadas na observação, fundidas no calor das crenças, como armas penetrantes que tomam a reflexão e agasalham a sobrevivência.

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de fevereiro de 2014.

As Memórias de um Oitentão [2008]

Na foto, Murilo Mellins na cadeira do engraxate Caio Francisco Matos, um dos seus personagens.

Infonet - Blogs Luíz A. Barreto, em 11/12/2008

As Memórias de um Oitentão [2008]
Por Luíz Antônio Barreto.

No dia 22 de outubro Murilo Mellins fez aniversário, completou 80 anos [2008]. Andando pelas ruas de Aracaju, desfilando os seus cabelos brancos, o memorialista, originário do interior, filho de Mário Mellins, que dentre outras coisas foi Intendente de Neópolis (antiga Vila Nova) parece fazer parte da paisagem humana de um modo especial, como guardião de velhas lembranças de ruas, festas, figuras populares, e de aspectos e fatos que marcaram a vida provinciana da capital sergipana. Murilo Mellins tem com Aracaju uma intimidade cumpliciada, como poucos, e ambos, o escritor e a cidade, guardando de cada um muitos segredos.

Homem nascido em bom berço, trabalhador em várias funções no Correio, na Prefeitura, noutros lugares, Murilo Mellins amealhou, contudo, um outro tipo de capital, o lúdico, que gasta parte dele nas edições que faz do seu Aracaju romântica que vi e vivi, que teve 3ª edição em 2007, graças ao patrocínio cultural do SEBRAE, do BANESE e da UNIT. A própria evolução do livro, com novos assuntos e muitas outras fotografias, é suficiente para atestar o quanto o autor tem a dizer e o quanto acumula de imagens com as quais encheu sempre as suas retinas, que a velhice não destrói.

Murilo Mellins concorre com grandes cronistas das décadas de 1940 e 1950, que mais parecem uma belle epoque retardatária na cidade de Inácio Barbosa. Garcia Moreno e Mário Cabral, e mais recentemente Lauro Fontes, que morreu na Bahia, neste ano de 2008, na fixação do cotidiano, de algum modo surpreendente, de uma capital cuja qualidade mais conhecida no País é a de ser pequena, como o Estado. O Brasil não conhece os domínios da sua própria federação e não tem intimidade além do alcance próprio do olhar. O Brasil sabe pouco dos brasileiros e não celebra com eles a festa da vida situada, no contato natural e cultural que mais e mais se integram.

Sergipe também não fica longe. Muitos fatos de sua história são deixados na masmorra do esquecimento, acondicionados em velhos papéis, frágeis jornais, ou na memória pessoal e social dos mais velhos, onde um mundo literário ágrafe ganha relevo, quando feita a interface com o cabedal imaterial do velho mundo. A conquista de Sergipe, feita pelas armas dos soldados de Cristóvão de Barros, em nome do escudo monárquico da Espanha, e que encobre a resistência indígena, não inspira pesquisas, as lendárias minas de prata de Itabaiana, que ouriçaram o imaginário dos europeus, não apetecem sequer a mera curiosidade dos serranos, a presença jesuítica, carmelita, franciscana, com seus tesouros de arquitetura, de arte e de prédicas, foi igualmente reduzida a poucos alinhavos, as divisões do território, alocados em Freguesias, jamais serviram de objeto de estudos esclarecedores, a evolução de cada povoação, vilas, cidades, regiões, continuam carecendo de interpretações econômicas, demográficas, sociais e culturais. Isto é apenas um pouco, quase nada do débito no campo da historiografia.

Nas décadas de 1940 e 1950, que são da especialidade de Murilo Mellins, outros fatos marcaram Aracaju, como a presença de Gilberto Freyre, em 1940, à frente de um grupo de cientistas da saúde pública e mental, ou os torpedeamentos dos navios mercantes, pelo submarino U-507 alemão, em agosto de 1942, as lutas democráticas de 1945,o assassinato do operário Anízio Dário, em 1947, a morte, trucidado na praça Fausto Cardoso, de Lídio Paixão, o crime da rua de Campos, que ceifou a vida de Carlos Firpo, o crime perpetrado por La Conga, que tirou a vida do menino Carlos Werneck, o fim dos bondes, o desmonte do Morro do Bonfim, e isto é tão somente um pedaço ínfimo de um inventário de muitos e muitos fatos, que estão empoeirados pela falta de interesse em estudá-los. O papel de Murilo Mellins na crônica da cidade do Aracaju é inigualável, pela oportunidade das abordagens, variedade temática, e precisão informativa.

Aos 80 anos, Murilo Mellins é credor de um trabalho incansável que faz como curador de memórias aracajuanas. E, fagueiro como os jovens, já prepara livro novo, com fatos curiosos, diferenciados, que nutriram o noticiário dos jornais, os programas de rádio e muito especialmente ficaram alojados nos guardados do povo. Que Murilo Mellins seja louvado como anjo da guarda do memorialismo aracajuano e que a cidade, pelas suas elites dirigentes, culturais, empresariais saibam ser dignas do esforço que ele empreende, em favor de um saber simples, mas ao mesmo tempo especial, como fonte onde são identificadas as lembranças que tanto animam a vida.

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de fevereiro de 2014.

Walmir Almeida: o cinegrafista da cidade


Publicado pelo Jornal da Cidade.Net, em 14/05/2012.
JC 2011 - Osmário - Memórias de SE.

Walmir Almeida: o cinegrafista da cidade.
Por Osmário Santos.

Mestre nas lentes atuou na reportagem fotográfica, servindo a vários governos, montando um acervo de mais de 10 mil fotos que documentavam os mais importantes lances políticos de Sergipe a partir do governo Leandro Maciel. Indignado pela falta de apoio para a necessária conservação do importante patrimônio para a memória do Estado de Sergipe, pegou uma Kombi, jogou dentro todos os negativos e na proximidade do Aeroclube de Aracaju tocou fogo em tudo, afirmando que foi o fogo mais bonito que viu em sua vida.

Cinegrafista projetou Sergipe através de documentários que eram projetados nos jornais cinematográficos nos cinemas do Brasil através da empresa cinematográfica Atlântica. Foi o pioneiro em cine jornal em Sergipe e um dos seus trabalhos agradou tanto ao presidente João Goulart, que resolveu convidá-lo para participar de sua comitiva a uma visita que faria ao Chile e Uruguai. Como o seu acervo cinematográfico esfriou a cabeça e fez doação do Cine Clube da Cidade.

Um completo atleta e a grande prova é a conquista de muitas medalhas jogando futebol e praticando ciclismo. Foi um dos pioneiros no esporte da vela e um dos fundadores do Iate Clube de Aracaju. No ar é o piloto de maior números de horas de voos que continua em ativa em Aracaju. Um piloto que já fez muitas acrobacias sem assustar a própria família, já que seus dois filhos e a mulher também pilotam.

Filho de Riachão

Walmir Lopes de Almeida nasceu no dia 26 de maio de 1930, na cidade de Riachão do Dantas, sendo filho de Francisco Lopes de Almeida e Maria França Almeida. Tudo que faz na vida é fruto das normas de conduta passada com muito rigor pelo seu pai. “Um homem íntegro, organizado, bom de conselho e amigo dos filhos”.

No Grupo Manuel Luiz, na cidade de Aracaju, com a professora Psidônia, passou a conhecer as letras, sempre acompanhado pele olhar firme de dona Carlota, diretora do grupo, que não descuidava de nenhum dos seus alunos. Uma pessoa que foi muito importante na sua vida. “Dona Carlota me marcou muito e por ela tenho uma grande atenção”. Um aluno que saía bem dos deveres e pelo esforço na aprendizagem conseguia escapar da corretiva régua nas mãos, dada pelos professores da época.

Trocou Revistas

Quando fazia o curso primário no Grupo Manuel Luiz, morava numa casa em frente ao Cinema Guarany, que funcionava na esquina da Rua Estância com a Av. Pedro Calazans. Um cinema onde tudo era possível acontecer. O proprietário do cinema era o senhor Augusto Luz, com quem Walmir mantinha um bom relacionamento. O menino Walmir só não fazia o papel de bilheteiro, mas não perdia um filme e ainda mais munido com um enorme pacote de revistas de quadrinhos para troca que funcionava nos momentos preliminares da sessão, no meio do filme quando havia um intervalo na projeção para troca de carretel e no final, quando tudo era válido em termo de troca e grana, como fim de feira.

Com 13 anos passou a trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Passou a estudar pela noite deixando o dia para o emprego que conseguiu com o cunhado João Pinheiro de Carvalho, fotógrafo conhecido na cidade que, além de ter o seu estúdio, era o fotógrafo oficial do Governo de Sergipe. O estúdio funcionava na Rua João Pessoa, e não faltava o tradicional cavalinho que os fotógrafos da época usavam para as fotos infantis.

Repórter Fotográfico

Walmir revela que o cunhado João Pinheiro foi um dos primeiros repórteres fotográficos de Sergipe, tendo aprendido com ele laboratório e todos os detalhes da arte fotográfica, tendo aprendido, também, muita coisa de trabalho de repórter fotográfico. Lições tão bem aproveitadas, que Walmir ocupou a vaga do João Pinheiro no Palácio, quando ele resolveu morar em Brasília, na época da inauguração da capital do país.

O primeiro contado com a máquina fotográfica aconteceu no estúdio com aquela máquina profissional, tipo caixão que trabalhava com tripé. Chegou a trabalhar com a máquina fotográfica caixão e com magnésio. “Não tinha o flash eletrônico e íamos para a igreja numa cobertura de casamento com aquela máquina enorme. Tirava-se geralmente só uma fotografia dos noivos e outra, dependo do casamento, e do noivo com os pais”. Criança que tirava fotografia com magnésio, nunca mais queira saber de tirar foto, devido ao susto que levava. Dava aquele estouro, um clarão enorme e cobria o ambiente todo de fumaça. O cunhado na máquina e Walmir segurando e se preparando para o estrondo e receber banho de fumaça.

As fotos de casamento eram tiradas dentro da igreja sem maiores problemas, tendo até padres que faziam questão de aparecer junto com os noivos. “Ficava a casa cheia de fumaça. Certa feita, num casamento em Estância, por descuido, o magnésio ficou na bandeira da janela. Quando chegou a hora da fotografia, com a explosão, os vidros das janelas não resistiram e partiram para todos os lados, provocando uma correria e tanta. Quando foram procurar os noivos, eles estavam trancados no quarto e dali não saíram mais pra nada”.

Tempo de ginásio

Na rotina da vida, trabalhando e estudando, chegou o tempo de fazer o ginásio e Walmir passou a estudar no Colégio Tobias Barreto, que era dirigido pelo professor Alcebíades Melo Vilas Boas. No Tobias conclui o curso ginasial e secundário.

Prosseguiu os estudos fazendo vestibular para a Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe, sendo aprovado logo de saída. Não descuidava dos livros pela noite, já que o dia era dedicado ao trabalho. Assim foi levando até concluir o curso superior.

Saindo formado economista, entre a loja de discos e um emprego no antigo Condese, resolveu optar pelo comércio onde está até hoje.

No governo Leandro Maciel passou a trabalhar como fotográfico do Palácio. Aproveitava os momentos de folga para supervisionar seu primeiro estabelecimento comercial, que instalou no edifício Mayara, no 3º andar, na sala 302. Iniciou na área comercial com um pequeno estúdio fotográfico. Depois, para um espaço maior no Parque Teófilo Dantas, oportunidade que passou a comercializar discos e artigos fotográficos. Sua loja circulou por alguns pontos comerciais no Centro de Aracaju: a exemplo da loja na Rua Itabaianinha e o da Galeria do Hotel Palace até chegar ao ponto definitivo no Parque, onde continua prestando um bom serviço aos fotógrafos amadores de Sergipe, sempre com orientações e tirando dúvidas.

Gosta de ensinar fotografia

Sempre gostou de passar seus conhecimentos fotográficos para outras pessoas. Assim aconteceu com o fotógrafo do JORNAL DA CIDADE, Geraldo Santos que aprendeu com ele a profissão de tirar retrato quando ainda menino trabalhava na loja de Walmir.

No palácio foram 16 anos de cobertura fotográfica, servindo a diversos governos. No governo de José Rollemberg Leite, lembra-se de um episódio interessante da sua vida de fotógrafo palaciano. “Tinha um certo deputado que não se dava bem com o governador. Numa certa tarde os deputados foram fazer uma visita de cortesia ao governador. Ele, apesar de ser da oposição, foi no meio. Coloquei minha máquina em ação e fotografei o deputado cumprimentando o governador. Ele fez de tudo para conseguir a fotografia. Me procurou e neguei, pois a fotografia pertencia ao Palácio. Um belo dia mandou me convidar para fotografar uma recepção que estava dando em seu sítio. Eu fui como profissional e, no meio de todo mundo, o deputado me elogiou pelo meu caráter e pela minha fidelidade ao governador”.

A Metralhadora

Um outro lance de Walmir aconteceu na sua estreia como cinegrafista. “Tinha comprado uma máquina de filmar e ia inaugurá-la como o governador. Os fofoqueiros e os mais ignorantes começaram a espalhar que eu estava com uma metralhadora com a finalidade de matar Leandro Maciel. Napoleão Dórea passou para o governador o que estava acontecendo e recebeu a seguinte resposta: A única coisa que Walmir pode me matar é tirando uma fotografia feia minha”.

Não participa de concurso de fotografia em Aracaju há muito tempo e guarda uma certa mágoa. “Cheguei a participar em dois concursos, mas houve uma certa marmelada e nunca mais”.

Conta que João Pinheiro de Carvalho foi o primeiro a utilizar da máquina de cinema na bitola de 16 ml para uso de reportagens sociais em Aracaju. Filmava e apresentava o filme mudo. Walmir diz que começou a trabalhar profissionalmente com cinema em Sergipe nas bitolas de 16 e 35 ml, com som, sendo o primeiro de cinejornais em Sergipe.

Cinegrafista

Como cinegrafista, seu nome e suas produções foram exibidos em quase todos os cinemas do Brasil nos jornais cinematográficos. Fundou o Cine Produções Atalaia, ideia que pintou na época do governo Luiz Garcia, diante do incentivo e apoio do secretário Junot Silveira. Imagens que foram reproduzidas não só no Brasil como no exterior. “Fiz um documentário sobre a seca. O filme foi para Porto Alegre para entrar numa campanha a fim de conseguir donativos para os flagelados da seca. Foi até assistido no Planalto, pelo presidente João Goulart, que me convidou para fazer parte da comitiva presidencial em uma viagem que ele faria ao Chile e ao Uruguai, como prêmio pelo meu trabalho. Fui e levei meu equipamento. Na volta, desci no Rio de Janeiro, preparei o filme num laboratório com edição e voz de Cid Moreira, lançando na frente do Canal 1000 e nos demais”.

“O sucesso foi tão grande que logo recebi o convite para fazer parte da ponte cinematográfica nacional, passando a ser correspondente da empresa Atlântica Cinematográfica de Severino Ribeiro, um dos maiores proprietários de cinema e distribuidor de filmes do Brasil”. Conta que alguns dos seus filmes foram exibidos na Suécia e na Itália.

Como na época não tinha televisão, o Jornal Cinematográfico passou por uma áurea fase. O público do cinema gostava da parte esportiva quando aparecia na tela os times do futebol carioca. Em Aracaju quem aparecia na tela em algum filme preparado pelo Walmir na sua documentação de bailes e eventos era prato para todas as conversas. Luiz Garcia e Lourival Baptista souberam aproveitar bem do jornal cinematográfico, mesmo recebendo algumas vaias nos cinemas de Aracaju.

Acervos

No campo de filmes, seu acervo foi doado ao Clube de Cinema. Quanto ao seu acervo fotográfico uma triste história para a memória de Sergipe. “Eu tinha guardado com todo cuidado as negativas de minhas fotos. Tentei em vários governos a organização de um arquivo e nada consegui. Então, certo dia, me chateei, peguei tudo, coloquei dentro de uma Kombi, cheguei perto do Aeroclube e toquei fogo com gasolina. Foi o fogo mais bonito que eu vi em toda minha vida”.

Aviação

A aviação é uma paixão velha. Desde o tempo de menino, quando frequentava constantemente o Aeroclube de Sergipe. De tanta aproximação com os aviões e conversas com pilotos, aos 12 anos voou pela primeira vez de carona. No ano de 1962, recebia a licença de piloto privado.

Na aviação prestou muitos serviços, fazendo taxi aéreo. “Tinha um avião ‘Cesna’ que sempre estava pronto para toda e qualquer emergência. Realizou muitos voos chamados de coqueluche: “É o único remédio realmente bom para curar uma criança que está com coqueluche”. A gente voa de manhã cedo, vai até 2.000 pés e resolvido o problema”. Nos conta que tinha um voo da coqueluche e que era realizado diariamente, como um santo remédio. Como o avião de Walmir era pequeno, só dava um doente, acompanhado do pai ou da mãe.

Na aviação muita gente doente foi deslocava para Salvador, através do avião de Walmir numa época que era o único taxi aéreo em disponibilidade na cidade. Resolveu problemas de políticos e empresários mais comprometidos com o tempo. É piloto veterano da cidade que continua na ativa, com todas as condições físicas, pois técnicas nem se fala já que detém o maior número de voos com 1.200h.

Esporte Náutico

Sócio fundador do Iate Clube de Aracaju, juntamente com Carlos Morais, Álvaro Bezerra e outros amigos, sempre se reuniam para falar de esportes náuticos, mesmo antes da fundação do clube. “Álvaro, que é pai de Thaïs Bezerra, construiu o primeiro snipe em Sergipe. O barco foi construído direitinho e deu certo. Logo em seguida, eu comprei o primeiro snipe em Porto Alegre e esse barco veio de avião”.

Um atleta por excelência de fazer inveja a Collor, pois praticava esporte em terra, mar e ar. Atuou no futebol, no remo, praticou natação, recebeu vários prêmios pelas conquistas de regatas na categoria snipe e continua sorrindo lembrando de suas vitórias. “No ciclismo, fazíamos corrida saindo da Ponte do Imperador até a Ponte da Atalaia. Numa corrida dessas, eu tinha comprado uma bicicleta famosa, a Hércules e resolvi colocar pra ferver. Sai em disparada na frente e resolvi dar uma olhada nos demais concorrentes, bem na frente da Capitania dos Portos. Quando olhei pra trás, percebi que os outros estavam distantes, me descuidei um pouco, bati num carro, perdi a corrida e a bicicleta”.

Família

Casou com Carolina Menezes Almeida, no dia 05 de setembro de 1964, e dela possui dois filhos: Walmir Lopes de Almeida Júnior, e Carlos Eduardo Menezes Almeida. A maior honra de Walmir é dizer que sua mulher e seus filhos pilotam.

Foto e texto reproduzidos do site: jornaldacidade.net

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de fevereiro de 2014.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Oviedo Teixeira (1910 - 2001)

Estátua de Oviedo Teixeira (1910 - 2001), em Aracaju/SE.
Homenagem ao eterno 'sujeito', que era como ele
se referia a todos, quer conhecesse ou não.
Foto: André Teixeira.
Reproduzida do site: geolocation.ws

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Hoje Luiz Antônio Barreto completaria 70 anos (10.02.2014)


De Tiago Morf Barreto, em 10 de fevereiro/2014.

Hoje Luiz Antônio Barreto completaria 70 anos.

A dor da perda

Nossos Pais descobrem que um ser está para nascer e trazer as suas vidas um brilho de luz.
A cada sorriso, palavra, olhar ou suspiro, uma cachoeira de lágrimas parece inundar seus olhos de alegria e paz.
Tornamos-nos adolescentes e a busca pela independência é cada vez mais clara. A nossa vontade de conquistar espaço nos distância de quem sempre nos amará, esquecemos a família. Esquecemos de dizer o quanto os amamos.
Mas um dia nossos entes queridos se vão. Quando menos esperamos e sem nenhum aviso, Deus tira de nós o que mais amamos.
Em nosso peito apenas a dor de um punhal que a cada "meus pêsames" parece pesar.
Nossos pensamentos divulgam para cada gota de sangue em nosso corpo a culpa de nunca ter dito: "te amo"; "preciso de você", "estou sempre aqui", "me preocupo", e como se não bastasse vem à frase mais forte "a culpa foi minha".
Nossos sonhos caem por terra, nossa independência parece perder a importância.
E a resposta para essa dor? O tempo e uma certeza:
Quando amamos transmitimos em pequenos atos e gestos, e as palavras não importam mais; quando precisamos de alguém, sentimos sua presença, e as palavras não têm mais sentido; quando nos sentimos sós e abandonados, surge uma palavra ou um gesto e descobrimos que nunca estaremos sós.
E a culpa? A culpa é da vida que tem inicio, meio e fim. A nossa culpa está apenas em amar tanto e sentir tanto perder alguém.
Mas o tempo é remédio e nele conquistamos o consolo, com ele pensamos nos bons momentos. E com um pouco mais de tempo, transformamos nossos entes queridos em eternos companheiros.
Nossos sonhos ganham aliados, nossa independência ganha acompanhantes, nossa vida conquista anjos. E no fim apenas a saudade e uma certeza:
Não importa onde estejam, estarão sempre conosco.

Hoje meu pai estaria completando 70 anos. Que saudade!!!!!

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Linha do Tempo/Tiago Morf Barreto.

Professor João Costa


Do Facebook/Linha do Tempo/Lucio Prado Dias, em 09/02/2014.

'Um mestre da gramática e da dramaturgia sergipana'.

"Fui brindado neste final de semana com um CD contendo textos escolhidos da literatura luso-portuguesa, recitados pelo inolvidável João Costa, combatente defensor da língua pátria. Mestre do vernáculo, um virtuoso na arte declamatória. Obrigado, César Faro, pelo presente". (LPD).

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 9 de fevereiro de 2014.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Chargista e Artista plástico Edidelson Silva.

Foto reproduzida do Facebook de Edidelson Silva.

Alina Paim


Acervo sobre Alina Paim:

Esta página apresenta textos sobre a escritora sergipana Alina Paim (1919-2011) Alina Paim - Uma grande escritora esquecida pela crítica Uma revisão histórica da literatura brasileira permite verificar que a escritora Alina Paim, nascida em Estância a 10 de outubro de 1919, embora tenha produzido dez romances, a saber: Estrada da liberdade (1944), Simão Dias (1949 e 1979), A sombra do patriarca (1950), A hora próxima (1955), Sol do meio dia (1961), a trilogia de Catarina composta pelos romances: O sino e a rosa (1965), A chave do mundo (1965) e O círculo (1965), A sétima vez (1969) e A correnteza (1979), e quatro obras dedicadas ao público infantil, encontra-se praticamente desconhecida.

A literatura dessa escritora sergipana centra-se na luta feminina por melhores condições de vida, nas questões políticas, nas discrepâncias entre a educação pública e a privada, além da situação do idoso. Tudo é narrado considerando o contexto social e psicológico no qual as personagens estão inseridas. Felizmente, desde 2007, essa situação começa a se reverter e alguns pesquisadores, motivados pela pesquisa da Professora Dra. Ana Maria Leal Cardoso, tem se dedicado a estudar a obra de Paim. Nos valeremos desses estudos, artigos científicos na sua maioria, para compor um panorama da obra desta valiosa escritora.

Cardoso divide a obra de Alina Paim em dois grupos. Cada grupo parece corresponder a diferentes fases da vida da autora, considerando-se que ela estivera desligada, por algumas vezes, do partido PC do B, para depois tornar a ligar-se a ele. O primeiro corresponde ao realismo social e reflete o engajamento político da romancista junto ao partido comunista: Estrada da liberdade, A sombra do patriarca, A hora próxima, A sétima vez; o segundo corresponde ao viés introspectivo, característico da escritura feminina: Simão Dias, Sol do meio dia, A correnteza e a trilogia de Catarina, composta pelas obras O sino e a rosa, A chave do mundo e O círculo. A citada professora observa que os romances de Paim encerram universos diferentes, mas que são melhores entendidos quando vistos como um projeto artístico no todo.

Consoante Cardoso, Elódia Xavier reforça o caráter múltiplo da obra de Paim no artigo intitulado Alina Paim: duas faces da mesma moeda. Esta pesquisadora revela que apesar do título do seu artigo, “para falar sobre a obra de Alina Paim, o ideal seria apontar para as múltiplas faces da mesma moeda”. No decorrer deste texto, Xavier ressalta o que para ela são as principais características dos textos de Paim: a social e a existencial. Além de Cardoso e Xavier, Rosa Gens em a Fantasia e formação ética na ficção para crianças e jovens de Alina Paim também comenta a diversidade ideológica e estética da escrita desta sergipana.

Uma rápida leitura dos romances Estrada da liberdade e Simão Dias são suficientes para perceber que eles assimilam as experiências da infância e juventude da escritora, podendo inclusive ser considerados como obras autobiográficas, principalmente Simão Dias. Ambos têm suas narrativas centradas nos conflitos entre uma jovem destemida que tenta romper com as barreiras sociais em busca de um mundo mais humano.

No que concerne a ficção infanto-juvenil de Alina Paim, a Professora Dra. Rosa Gens afirma que “a escritora sergipana Alina Paim marca-se pela audácia. Audácia em abordar temas instigantes, audácia ao construir uma escrita inovadora e audácia em transitar por diferentes esferas de realização artística”.

(Texto retirado da dissertação do mestrado de Daniele Barbosa de Souza Almeida).

Foto e texto reprodzidos do blog: joseanafonseca.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 7 de fevereiro de 2014.

Calendário Homenageia Cientistas Sergipanos


Publicado por f5news, em 06/02/2014.

Calendário homenageia cientistas sergipanos
Fapitec e Segrase concretizaram o projeto

Por Tíffany Tavares.

Um projeto que homenageia 12 cientistas sergipanos. Este é o Calendário “Cientistas de Sergipe”: uma iniciativa da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec), em parceria com a Empresa de Serviços Gráficos de Sergipe (Segrase), que foi lançada na tarde desta quinta-feira, 06, no auditório do Museu da Gente Sergipana, em Aracaju.

“A ideia do calendário surgiu de uma inquietação a partir de uma pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, demonstrando que o interesse pela ciência no Brasil tem crescido bastante, mas, em compensação, o conhecimento que temos dos cientistas ainda é precário”, considerou o diretor presidente da Fapitec, José Ricardo de Santana.

Ele acrescenta que a situação em Sergipe não é diferente e a proposta é homenagear os cientistas que tanto contribuíram para história da consolidação da cultura científica no estado, através da produção que tiveram, ou das políticas públicas que criaram. “Inclusive alguns órgãos importantes para Sergipe derivaram dessas políticas públicas, como por exemplo o Instituto Parreira Horta e o Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS).

Uma comissão selecionou profissionais das áreas de Exatas, Humanas e Saúde e. no calendário, são homenageados 12 pesquisadores que se destacaram nos séculos XIX e XX, sendo considerados como os pioneiros da ciência em Sergipe.

Segundo o diretor presidente da Segrase, Jorge Carvalho do Nascimento, o calendário está em sua quarta edição e nasceu no ano de 2011. “O primeiro teve como tema ‘As Rodovias de Sergipe’, o segundo, ‘Casarões de Aracaju’, o terceiro, ‘Artistas Plásticos de Sergipe’ e, por fim, o quarto, ‘Os Cientistas de Sergipe’”, enumerou.

O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia (Sedetec), Saumíneo Nascimento, afirmou que projeto resgata a importante história dos homenageados sergipanos e que servirá como fonte de conhecimento não só para a comunidade acadêmica, mas principalmente para os estudantes do ensino médio e básico. “Espero que as histórias influenciem e motivem os alunos, por tudo que os cientistas fizeram pelo nosso estado. Nossa expectativa é que a intelectualidade sergipana se veja aqui representada. Temos diversos outros e esperamos a continuidade desse projeto”, disse.

Augusto César Leite, Felisbelo Freire, Fernando Porto, Tobias Barreto, Archimedes Pereira Guimarães, Emanuel Franco, Epifânio Dória, Antônio Tavares de Bragança, José Aloísio de Campos, Maria Thetis Nunes, Paulo de Figueiredo Parreiras Horta e Laudelino de Oliveira Freire foram os cientistas sergipanos homenageados.

Foto: Rafael Almeida

Imagem e texto reproduzidos do site: f5news.com.br

Gizelda Santana de Morais

Gizelda Santana de Morais

Gizelda Santana de Morais nasceu no município de Campo do Brito em Sergipe no ano de 1939, sendo filha de Antônio Dórea Morais e Maria Pureza Morais. Aprendeu a ler na cidade de Tobias Barreto através de literaturas de cordel que ela sempre comprava numa feira em que havia um senhor que tinha uma banca que vendia os livretos. A partir daí, ela passou a ler Romances e poesias, tornando para ela um hábito a partir dos 8 e 9 anos. Seus primeiros poemas foram escritos, primeiramente, quando ela tinha 12 anos. Estudou o Ensino Fundamental e Médio no Estado em que nasceu, fez o ginásio no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, e lá a chamavam para fazer poesias. Porém, ela afirma que poesia por encomenda não é muito bom, mas só é bom quando temos vontade para fazer. Ao estudar no Colégio Estadual Tobias Barreto, ela mantinha algumas colunas em jornais como A Gazeta de Sergipe, Correio. E nessa época, estudando ainda no Colégio Estadual Tobias Barreto é quando o Movimento Cultural de Sergipe publicou o seu primeiro livro de poesias. Depois cursou Filosofia em Belo Horizonte, e, posteriormente, se foi morar em Salvador, concluindo o Curso de Filosofia e também Psicologia. Mestrado em Psicologia na USP. Mais a frente cursou o Doutorado e Pós-Doutorado na França. É membro da Academia Sergipana de Letras.

Trabalhou como professora na Universidade Federal de Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, além de ter sido participante de movimentos culturais, sendo secretária regional e conselheira em órgãos nacionais como CFE, CNPq, CAPES, INEP e SBPC, além de ter lecionado na Universidade de Nice, na França.

Seu primeiro livro com poesias, Rosa do Tempo, fora publicado quando a autora tinha apenas 18 anos de idade, sendo publicado pelo Movimento Cultural de Sergipe (MCS). Sendo uma das criadoras do Clube Sergipano de Poesia.

No ano de 1959, ao ter participado do Concurso Universitário de Poesia em Belo Horizonte, teve a colocação de primeiro lugar.

Quando a sua dedicação aos Romances, isso só ocorreu de forma mais intensa quando ela se aposentara.

Quanto aos seus Romances, Ibiradiô: As várias faces da moeda, e Preparem os Agogôs, a autora afirma que ambos os livros tratam da história de Sergipe. O primeiro do extermínio dos índios; o segundo das relações entre escravos e senhores de engenho. E estes livros para a autora são considerados históricos e uma dívida que ela tinha com essas temáticas.

O intuito dela ter escrito o Romance Preparem os Agogôs seria para que a sociedade sergipana tomasse consciência da miscigenação, bem como a contribuição dos índios e dos negros com relação à cultura brasileira...

Foto e texto reproduzidos do blog: literaturasergipana.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 7 de fevereiro de 2014.

Mário Jorge de Menezes Vieira.

Mário Jorge de Menezes Vieira.

Biografia

Mário Jorge de Menezes Vieira nasceu em Aracaju (Sergipe) em 23 de novembro de 1946, falecendo na mesma cidade num acidente automobilístico em 11 de janeiro de 1973. Começou o Curso de Direito na Faculdade de Direito de Sergipe (hoje UFS) em 1966, e, posteriormente, mudou-se para São Paulo, para cursar nessa metrópole o Curso de Ciências Sociais, mas sem conseguir concluir. Foi militante do movimento estudantil na década de 60, durante o período da Ditadura Militar no Brasil, sendo preso em 1968 e respondendo a alguns processos por conta das suas atividades consideradas como subversivas perante o governo da época, e absolvido em 1972.

No ano de 1968, Mário Jorge publicou o seu primeiro e único livro em vida, Revolição (em formato de envelope). Além, deste o poeta também publicou poemas e artigos em jornais e revistas de Sergipe, sendo também editor de um jornal chamado Toke, bem como o envolvimento na produção de alguns filmes e participação em alguns festivais de músicas, e colaboração em peças de teatro.

Quanto à produção literária de Mário Jorge, nota-se a influência das Poesias de Vanguarda, destacando-se mais a poesia concretista, práxis, social e marginal, e influências da Tropicália. E o contexto dos seus poemas retrata temas semelhantes do Futurismo, com tons líricos, agressivos, experimentais, e de ideias, que sem dúvida são radicais para quem os lê.

Nos poemas desse importante autor sergipano são notados também um caráter de denúncia social como os problemas durante o Regime Militar no Brasil, e a influência de protestos Hippies como os do período da Guerra do Vietnã. Eis o porquê de sua obra ter sido considerada subversiva...

Foto e texto reproduzidos do blog: literaturasergipana.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 7 de fevereiro de 2014.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Animação com Sílvio Romero


Sílvio Romero.

Curta em animação com Sílvio Romero produzido para o Museu da Gente Sergipana.

Direção André Wissenbach, Edição e animação Adriana Pedrosa, Direção geral Marcello Dantas, Roteiro Silvia Albertini, sonorização Dan Zimmerman.

Enviado ao YouTube por archimidia, em 11.08.2012.

Homenagem de Edidelson Silva a Marcelo Déda (1960 - 2013)

Homenagem de Edidelson Silva a Marcelo Déda.
Publicada originalmente em 3 de dezembro/2013.
Reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Edidelson Silva.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Epifânio Dória.


Publicado pela Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 03/09/2004.

Epifânio Dória.

Mais do que organizar instituições de cultura – Biblioteca Pública, Arquivo Público, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Arquivo da Maçonaria - catalogando acervos, documentar a vida sergipana, defender o porte gratuito para a circulação nacional de livros, revistas e jornais, Epifânio Dória tinha a noção exata do papel das bibliotecas nas sociedades. como sabia fazer a crítica, com textos claros: “Com pesar, entretanto, venho notando que os homens de Governo, em geral, relegam as bibliotecas a um plano muito secundário, como se elas não desempenhassem o papel relevante que desempenham na obra da civilização.” A constatação, feita há quase 90 anos (em 1915) guarda a triste atualidade e pode ser novamente citada, para fixar, no tempo, o descaso e seus múltiplos e perniciosos efeitos.

As civilizações ágrafes têm na memória a base de suas culturas. Há uma partilha universalizada, como coubesse a cada um membro comunitário um quinhão de conhecimento e de sabedoria. As sociedades letradas, ao contrário, são seletivas, fazendo dos mais diferentes suportes – livros, revistas, jornais, outras publicações – o lastro comum, ao qual todos devem acorrer, na luta da aprendizagem. Considerando as altas taxas de analfabetismo, e os baixos índices de leituras, não surpreende que a ignorância campeie solta, renegando ao esquecimento parte da vida construída no cotidiano das pessoas e dos grupos sociais.

Mesmo tendo vivido longamente, 92 anos (nasceu em 1884, morreu em 1976), e ocupado posições destacadas como jornalista, pesquisador, e especialmente documentarista, Epifânio Dória não tem seus méritos exaltados e sequer é bem lembrado pelos sergipanos. Suas colunas de Efemérides Sergipanas, ajudando a construir biografias com informações preciosas, selecionadas por uma pesquisa cuidadosa, amarelaram nas páginas dos jornais, ou se perderam com eles, inapelavelmente. Seus Catálogos, organizados em cada uma das instituições a que serviu, foi abandonado, sem que houvesse melhoria na localização dos textos para a pesquisa. Seu zelo pelo levantamento de dados pessoais de vultos sergipanos, residentes no Estado ou fora dele, não fez escola, não deixou discípulos, ainda que fosse um dos mais eficazes meios de guardar memória.

Epifânio Dória não é exemplo único na galeria dos esquecidos. Clodomir Silva, que viveu apenas 40 anos, mas que foi professor, folclorista, jornalista e político, autor do monumental Álbum de Sergipe, que nem tem seu nome, e de Minha Gente, recentemente reeditado pela Funcaju, é outro injustiçado. Nem os professores e alunos do velho Atheneu, onde ele fez brilhar a sua inteligência, sabem dele. É comprida a lista dos intelectuais que mesmo deixando obras importantes, não são lembrados hoje. Nomes como os de Carvalho Neto, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Florentino Menezes, Prado Sampaio, Elias Montalvão, Carvalho Lima Júnior, Magalhães Carneiro, Ávila Lima, Costa filho, Freire Ribeiro, Artur Fortes, estão mergulhados, com tantos outros, nas brumas do esquecimento. O desmemoriamento das populações não tem medida, como se pode observar nos resultados de uma enquete, feita pelo Portal InfoNet, a respeito de Epifânio Dória.

A InfoNet perguntou qual era a profissão de Epifânio Dória e sugeriu a múltipla escolha: Advogado, Engenheiro, Médico, Documentarista. O resultado foi o seguinte: Advogado – 40,96%, Engenheiro – 28,92%, Médico – 13,25% e Documentarista – 16,87%. Ou seja, 83,13% desconhecem a formação profissional do velho bibliófilo, apenas 16,87% souberam responder qual era a verdadeira profissão de Epifânio Dória.

O resultado encerra um eloquente exemplo de desconhecimento cultural. Afinal, Epifânio Dória morreu há menos de 30 anos, depois de exercer enorme presença na vida sergipana, e de ter seu nome fixado na fachada da Biblioteca Pública, com PH e tudo, que é uma casa bem frequentada pelas gerações de estudantes. A despretensiosa enquete da InfoNet termina por preocupar ainda mais os que se esforçam, por todos os modos, para adornar Sergipe com a arte e a cultura dos seus filhos.

Em Sergipe algumas entidades culturais mantém vivos nomes consagrados da literatura, da história, da cultura em geral. São exemplos o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, fundado em 1912, a Academia Sergipana de Letras, fundada em 1929, que se mantém vivas, driblando todas as dificuldades. As escolas, das diversas redes, tratam muito pouco das coisas locais, ainda que existam duas disciplinas – Sociedade e Cultura, para o Ensino Fundamental, e Cultura Sergipana, para o Nível Médio – como veículos de circulação de conhecimento sergipano.

A Universidade Federal de Sergipe tem, atualmente, muita gente pesquisando e escrevendo monografias, dissertações, teses, livros com temática ambientada no cenário sergipano. As outras ainda não galgaram a mesma posição da UFS, tendo o local como um acessório. Falta, ainda, um Guia de Fontes, para orientar os estudos e incorporar a bibliografia produzida ao longo do tempo.

É claro que o quadro já foi pior. Houve tempo que poucos ousavam falar em literatura, em arte e em cultura sergipana. Os olhos, os ouvidos e os aplausos estavam fixos na cultura importada, fosse de onde fosse, enfeitada como gênero de primeira necessidade e de inquestionável qualidade. O tempo tem ensinado que as coisas não funcionam bem assim. Sergipe já tem quadros intelectuais, aqui residentes, que romperam as fronteiras e levaram seus nomes para convívios nacionais e internacionais. A máxima (ou praga) de que Santo de casa não faz milagres não pode prosperar entre os mais jovens, para não afetar a auto estima, essa propriedade de valorização do que é próprio, que deve ser estimulada.

Quem vence a ignorância é a cultura, a começar pela informação, pela ampliação do conhecimento, pela reflexão do saber. Saber da profissão de um intelectual, como Epifânio Dória, é importante, porque ele escolheu para exercer, uma atividade sensível, de preservar bens de cultura que devem ser utilizados pela sociedade.
  
Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet". institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Texto e foto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Professora Áurea Zamor de Melo (1906 - 2010)


Publicado pelo Portal Infonet - Blog Odilon Cabral - 11/11/2010

Simplesmente; Zamor.

E Zamor, para mim, homem do povo, enquanto “voz do povo e voz de Deus”, conquistou o próprio céu, apossando-se da imortalidade, como feito próprio, e exclusivo mérito.

Nascida em 10 de março de 1906, faleceu esta semana a Professora Áurea (Zamor) de Melo. Findou uma existência plena, 103 anos, exemplo de virtude, dedicação e carinho à causa da educação em Sergipe.

O tempo, que tudo erode, rói e desbasta, parecia ter parado para a Professora Zamor.

Parecia que nada a desfigurava, enquanto mulher frágil, franzina, miúda, imutável pelos dias, anos e décadas. O rosto era o mesmo, o corpo também, a agilidade sutil do pensamento; inalterável.

Aos que não vêem o essencial, o importante, Zamor desde jovem, se é que a posso ver assim, cinquenta anos passados, parecia uma espécie de espiga mirrada, que se faria despercebida, não fosse o seu talento, a sua capacidade de servir e trabalhar, o seu caráter firme e o seu despretensioso agir e amar.

Ninguém poderá vê-la diferente, em passos largos e firmes, abraçada inseparavelmente a sua pasta de anotações e estudos, uma pasta presa sob um dos braços que sobressaia o seu caminhar único, inimitável na minha memória.

Um andar peregrino que, em ritmado acompanhamento da marcha, exibia uma oscilação transversal do tronco, amorável, conciliador, aconchegante no seu jeito simples, de ser Zamor, simplesmente.

Porque Áurea Melo não fora importante em honras e poder, mas adquirira o poder de se fazer apaixonar e se fazer bem querida e muito honrada como Zamor, corruptela do apelido familiar de “Meus Amor”.

Zamor que virou nome de escola; duas, é o que me parece, uma Municipal de Aracaju e outra Estadual, homenageada por seus alunos, enquanto mandatários de Sergipe e de sua cidade Capital.

Zamor, filha de um negociante do Aquidabã, Felício Dias Melo e de uma professora, Maria do São José de Melo, colho-o no trabalho momentoso de Osmário Santos, perpetuando a nossa sergipanidade, Zamor que fora uma das seis irmãs professoras entre nove filhas de sua mãe professora.

Zamor que não foi minha professora como o fora Normélia Melo, sua irmã, minha inesquecível mestra de Matemática e Geografia no Colégio Jackson de Figueiredo, ginásio do casal Benedito e Judite Oliveira.

Zamor que me argüira português no Exame de Admissão ao Ginásio daquele colégio. E que ficara na minha memória pela dicção precisa tornando fácil o ditado para aqueles meninos de dez, onze anos, saídos dos Cursos Primários, como eu que provinha do Colégio Brasília das Professoras Helena Barreto, Alaíde e Lourdinha Oliveira.

Zamor, repito, ditando compassada e claramente o tema sorteado; “O meu cofre.” Escuto-a, ainda, em eco reverberante na minha alma, a sua preocupação com a pronúncia das vogais, sem ensejar dúvidas em grafias e ortografias: ‘Ô meu côfre. Como era bónito ô meu côfre!’

Coisas simples que permanecem nos alunos como uma benfazeja passagem dos mestres pela vida. Saudade que plenifica o nosso ser e nos acrescenta em felicidade na caminhada do existir. Mensagem bem semeada e frutificada, que por si somente dessedenta nossas carências infinitas de imortalidade, afinal tudo é mortal, finito, limitado, na natureza, só a espécie pode gozar de uma permanência maior, e relativa, no existir.

E nessa existência única, Zamor ao lado da docência em História e Português, também fora Contadora - Guarda-Livros, atuando em diversos órgãos da administração pública municipal e estadual, servindo com eficiência, correção e zelo, como sói os servidores públicos deveriam ser por missão e sacerdócio.

Mas, a despeito de seus vários misteres, como mestra, administradora pública e líder sindical dos professores, a Professora Zamor era também uma mulher cosmopolita, universal, aberta às idéias, apreciadora da paisagem próxima e longínqua; uma pesquisadora notável em antropologia e humanidades. Era uma peregrina, mundo afora, uma espécie de Marco Pólo, conhecendo os continentes e os quadrantes do mundo. Alguém que conferia pessoalmente a realidade do Atlas, em meridianos e azimutes, em olhar sempre ávido de novas descobertas.

Descobertas que não amainava o telúrico amor a sua terra e as angústias de seu povo, idealizando e pondo em prática uma escola para lavadores de automóveis, entre tantas dedicações à gente humilde, gente que nunca fora esquecida pela mestra pequenina, a professora Zamor.

Mas, a despeito de tudo isso que por si só já satisfaria a perspectiva existencialista e materialista, da vida e do ser, satisfação surgida também pela compensação e extensão da espécie humana em maior longevidade, - cento e três anos de vida é um fato notável! - na fugacidade dos apressamentos racionais, que recusam e afastam o transcendente pouco coerente, tão assintótico quanto próximo ao irracional, aos homens e mulheres como Zamor, fica-lhes concedida a imortalidade que não é dom, mas se obtém por conquista.

E Zamor, para mim, homem do povo, enquanto “voz do povo e voz de Deus”, conquistou o próprio céu, apossando-se da imortalidade, como feito próprio, e exclusivo mérito.

Um valor doado pelo próprio Deus, já em vida, só a aqueles seus muito amados.

E quando estivermos olhando o céu no azul gasoso das massas atmosféricas em resposta à luz, lembremos que para além deste céu há uma nova santa, pequenina como Santa Terezinha do Menino Jesus. É Zamor que de lá está rezando e nos protegendo, todos seus amigos, alunos, admiradores que aqui restamos nos nossos caminhos duvidosos, hoje infelizes por sua partida.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/odilonmachado
Foto reproduzida do site: educar-se.com

Tributo a José Moreira Matos

José Moreira Matos ( de pé), na sala de aula da Faculdade de Medicina, 
em 1963. Ao fundo, à direita, Jairo Fontes Sampaio

Publicado por Infonet - Blog Lúcio Prado - 19/10/2012 

Tributo a José Moreira Matos


Faleceu no mês passado na cidade do Rio de Janeiro, onde residia, José Moreira Matos. Ao lado de Jairo Fontes Sampaio, Moreira foi peça  importante para a fundação da Faculdade de Medicina de Sergipe, que teve em Antonio Garcia a liderança maior. Como estudantes secundaristas, deram grande contribuição para que a escola se tornasse uma realidade, atuando como líderes e facilitadores nos vários processos burocráticos necessários para a organização da faculdade.

   Apesar da destacada atuação, eles não foram aprovados no primeiro vestibular, não lhes cabendo portanto a primazia de pertencer à primeira turma. Porém isso não foi o fato mais triste.
   Aprovados no ano seguinte, em 1962, não conseguiram fazer o curso em Aracaju, por razões diferentes. Jairo, funcionário da LBA, foi transferido para o Rio de Janeiro e lá concluiu o seu curso, especializando-se em anestesiologia, atuando e residindo em Niterói ainda hoje.

   José Moreira de Matos, infelizmente, teve menor sorte. Escriturário do IPASE - Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores da União em Sergipe, era um tradicional militante do Partido Comunista Brasileiro – PCB - e com o golpe de 1964 passou a ser perseguido pela ditadura militar, vindo a perder o emprego, trancar a matrícula na faculdade e em determinado momento, cair na clandestinidade.

   Para Eduardo Antonio Conde Garcia, ex-reitor da UFS e membro da Academia Sergipana de Medicina, em Antonio Garcia Filho e a Faculdade de Medicina de Sergipe – Criador e Criatura ( Sercore Artes Gráficas, Aracaju, 2008), “...por conta de tais atropelos, (Moreira) não concluiu o curso médico. Quando a ordem democrática foi restaurada, ele foi trabalhar como laboratorista em um hospital na cidade do Rio do Janeiro, onde já se encontrava naquele momento”.

   O trabalho dos dois estudantes foi tão importante que seus nomes foram gravados na placa de bronze comemorativa da inauguração da Faculdade, em 1961, e que se encontra ainda hoje na sala da diretoria da entidade, localizada no Campus da Saúde da UFS em Aracaju.

   Consolidado o golpe de 1964, Moreira teve que sair às pressas de Aracaju e, tendo como companheiro de fuga o antigo funcionário da Petrobrás Milton Coelho, permaneceu clandestino por quase uma semana em um sítio de propriedade do ferroviário Mané de Chimbinha, casado com Petrina, irmã de Moreira, no povoado Portinhos, município de Socorro, Sergipe.

   Conta Milton Coelho, em depoimento emocionado que me chegou ao conhecimento através do confrade Fedro Portugal: “ Chegamos depois de longa e penosa caminhada noturna saindo do bairro Industrial, percorrendo locais e itinerário desconhecidos por nós dois. Para tentar descobrir o caminho em direção ao povoado Portinhos, Moreira batia palmas em frente às moradias fechadas e pela prática de morador do interior, tinha que falar o prefixo, como diria Luiz Gonzaga, "sou de paz, por onde devo seguir para o povoado Portinhos” ? E os moradores, sem abrir a porta, orientavam para seguirmos em frente e dobrar ali... Depois do cansativo percurso, chegamos finalmente ao sítio de Mané de Chimbinha”.

   Moreira e Milton pretendiam ficar nesse local até conseguir um transporte seguro para outro estado da federação. Antes que completasse uma semana no esconderijo, eles foram surpreendidos por um destacamento formado pelos sargentos do exército Manoel Messias Siqueira e Williams de Oliveira Menezes, lotados na antiga 19a CSM. No momento da abordagem, Moreira não estava com Milton, que foi detido e levado para Aracaju.

Segundo relato de Milton, os militares imaginavam que seu companheiro naquele momento era o destacado líder comunista Agonalto Pacheco, à época muito procurado e que foi identificado erroneamente numa fotografia por moradores da região. De fato, Moreira e Agonalto eram fisicamente parecidos, ambos altos, magros, morenos e com bigode.

   O curioso ainda na história é que o sargento William era estudante da primeira turma da nossa Faculdade de Medicina, a mesma que Moreira cursava e portanto se conheciam bem. Enquanto o sargento Manoel Messias, acompanhado do cabo Pedro, tentava localizar o subversivo fugitivo, William ficou na guarda de Milton e então este lhe falou, sabendo que os dois eram colegas de faculdade, que Agonalto era, na verdade, Moreira, tentando obter daquele uma facilidade qualquer para proteger o companheiro.

   As buscas pelo suposto Agonalto foram suspensas. Segundo Milton, Moreira ficou escondido entre os arbustos do mangue, mas todos os seus documentos foram recolhidos pelos militares, sendo desfeito assim o engano. Na mesma noite, ele retornou em caminhada para Aracaju, ficando escondido na casa de uma irmã. De lá, foi para Nossa Senhora da Glória e, um ano após, transferiu-se definitivamente para o Rio de Janeiro, ficando na clandestinidade sob a proteção do aparelho comunista; com a redemocratização do país, trabalhou na Caixa Econômica e na Secretaria de Estado da Saúde, como laboratorista, não conseguindo concluir o tão almejado curso de Medicina.

   O sargento Williams concluiu o curso de medicina em 1966, exercendo a urologia como especialidade, tendo no exército se reformado, posteriormente, na patente de coronel. Morreu de câncer em 2005.

   Na noite da nossa narrativa, Milton Coelho chegou na 19ª CSM, em Aracaju, escoltado pelos militares, quando passou por interrogatório, sendo liberado na madrugada, ficando marcada assim na história a primeira prisão do militante pela ditadura de 1964. Outras vieram em seguida, com maiores e mais graves consequências...

   A morte silenciosa de José Moreira de Matos, ocorrida após longa e insidiosa doença, em 14 de setembro último, longe de sua terra natal, finaliza a trajetória de um bravo líder estudantil, que lutou muito para Sergipe ter a sua primeira Faculdade de Medicina e que, por ironia do destino, não pôde realizar o acalentado sonho de se tornar um médico. Para ele, a minha homenagem.

Texto e foto reproduzidos do site: infonet.com.br/lucioprado