Legenda da foto: Ana Lúcia Vieira Menezes e o irmão
Mario Jorge Vieira Menezes: uma infância sob bom amparo.
Legenda da foto: Mário Jorge Vieira: o irmão poeta que se foi cedo e deixou obra marcante.
Trecho de entrevista de Ana Lúcia Vieira Menezes ao jornalista Jozailto Lima do site [jlpolitica com br], em 3 de março de 2024.
(...) JLPolítica & Negócio - A senhora ajudou a manter viva e acesa a obra do seu irmão Mário Jorge Vieira enquanto poeta, ou prejudicou?
ALV - Sempre tentei ajudar - eu e minha mãe. O Pássaro Azul, que nós fizemos e colocamos ali na praça, foi tudo custeado pela família. Infelizmente, a Prefeitura nem pintar o pássaro está pintando. Não tem mais iluminação. O pássaro está todo desbotado, e foi o grande escultor Antônio da Cruz que fez aquela escultura.
JLPolítica & Negócio - A senhora acha que Sergipe não é bem carinhoso com memórias?
ALV - Não é nada carinhoso. Sergipe é uma madrasta com a memória dos seus filhos. Inclusive eu fui para esse comitê que Marcélio Bomfim está articulando e coloquei a proposta, já tinha dialogado com Fernando Sá e com ele, e vamos ver se o movimento, se o comitê, consegue concretizar a pelo menos ter placas em lugares importantíssimos que marcam a política. Como é que você tem, em 1954, um operário assassinado, um médico do Partidão cassado, mas que socorreu, nesse ato, o operário, e a nova juventude nem sabe desses fatos? Os ferroviários de Sergipe têm uma história linda. A faculdade de Direito foi um grande centro de defesa à democracia, e é tudo apagado.
JLPolítica & Negócio - Qual é o seu conceito da obra deixada por Mário Jorge?
ALV - Em curto espaço de tempo aqui nesse planeta - viveu só 26 anos -, Mário Jorge deixou uma grande obra. Ele marcou não somente a poesia concretista, a poesia pop, mas vai da poesia lírica a várias outras fases.
JLPolítica & Negócio - É possível prever o que teria sido Mário Jorge Vieira enquanto homem de literatura não tivesse encontrado a morte tão cedo?
ALV - Seria um poeta mais forte, deixaria mais produção, sempre contestando o sistema e vendo além de seu tempo. Porque Jorge era uma pessoa que via sempre assim. Eu bem jovenzinha, ele também, em plena ditadura vieram apresentar a peça de Macbeth aqui no Atheneu, com o teatro do oprimido influenciando -, o teatro integrativo, teatro com a plateia -, e o único que sacou e quis subir no palco no final foi ele. Lembro-me daquilo e me marcou muito. Ele estava muito em sintonia com o seu tempo, com seu tempo.
JLPolítica & Negócio - É verdade que ele e a senhora se trombaram um pouco na adolescência?
ALV - Não. Pelo contrário. Ele me chamava de Aninha e eu a ele de Jorginho.
JLPolítica & Negócio - Falo ideologicamente, de a senhora achar ele muito avançado, meio destemperado.
ALV - Não, de jeito nenhum. Olha, quando ele estava drogado, que pegava o carro de papai e saía, eu pegava outro carro, ia atrás e eu era a pessoa que ele escutava. Ele dizia, quando estava de saco cheio - que era assim que ele chamava nossa casa: “Nesse Pensionato Menezes, você é gente fina” -, porque ele levava gente que ele queria do Brasil inteiro lá para casa e papai e mamãe acolhia. Uma vez ele ficou nu na piscina da Associação Atlética, e (João Augusto) Gama, que é amigo dele desde a infância, me liga: “Aninha, venha buscar Jorge que ele está aqui nu na piscina e não tem quem convença a se vestir”. Aí eu fui. Ele se vestiu e veio comigo. Nunca teve trombada entre a gente. Da mesma forma que sou discreta na minha casa, minha casa também é sempre muito discreta, e não tem nenhum contemporâneo de Jorge que tenha alguma avaliação ruim das relações na minha casa. Muito pelo contrário.
JLPolítica & Negócio - Mas a senhora considera Jorge um iconoclasta por natureza?
ALV - Não. Eu acho que não. Ele tinha momentos assim arrebatadores, mas não era o tempo inteiro. Jorge era uma pessoa extremamente carinhosa e alegre. A risada dele chamava a atenção de todo mundo (...)
Trecho reproduzido do site jlpolitica com br, de entrevista de Ana Lúcia Vieira Menezes ao jornalista Jozailto Lima.