Publicado originalmente no site do JORNAL DA CIDADE, em 6 de
novembro de 2019
Autorretrato com Clara Angélica
Jornalista desde sempre. Tradutora. Começou no rádio, ainda
criança e depois jornal e TV
Por Thaís Bezerra
A nossa convidada é a sergipana/americana Clara Angelica
Porto. Jornalista desde sempre. Tradutora. Começou no rádio, ainda criança e
depois jornal e TV. Mora em Nova York há muitos anos. Diz: “Sinto muito prazer
em ter sempre ganhado a vida fazendo o que faria de graça, por prazer.” Ligada
às artes desde a mais tenra idade. Música, teatro, literatura. Recorda: “Quando
passei pela presidência da Funcaju, meu slogan era: Arte é a Melhor Coisa da
Humanidade. E é. A arte salva. Me salva.”, concluiu. Tem dois filhos, Sasha
Porto Caskey, um cientista de computação. “Meu filho é brilhante, brilha para
mim.” E Vanessa Porto Caskey, doutora em psicologia; terapeuta. “Minha filha é
minha luz.” “Tenho duas netas preferidas, as meninas do meu menino. Tália, a
mais velha, acabou de fazer 14 anos e está no primeiro ano de high school em
NY. E Isabela, a mais nova, minha Bebela, com 11 anos. Para mim, as maiores
expressões de amor na minha vida atual. Sou vó criadeira, ajudei a criar as
duas. Dona de casa esmerada. Jardineira. Filha de Oxum. Gosto de sol e água.
Gosto do Rio, da Bahia, de Nova York, de Paris e de Aracaju. Não
necessariamente nessa ordem.” Clara é inteligente, criativa, de personalidade
forte e mente brilhante. Está com um projeto de voltar a morar em Aracaju em
2.020. Ela faz revelações pra TB.
Nome completo: Clara Angélica Porto
Momento preferido do dia: Gosto de manhãs e sol. Mas gosto
de noite e lua. Gosto mesmo é daquela horinha (rara) de não fazer nada.
Um motivo de orgulho? Adoro ser mãe e avó.
Trilha sonora da sua vida: São tantas, são muitas, são todas
tão música...
Um talento doméstico: Cozinhar e jardinar
Qual é a primeira coisa que pensa ao acordar? Acordo
pensando no que vou fazer. Devagarzinho e pianinho antes da xicrinha de café.
E antes de adormecer? Adormecer é difícil. A cabeça não
para. Fico rezando o terço nos dedos para o sono chegar. Geralmente o último
pensamento é: ai, como quero dormir...
O que mais aprecia em seus amigos? Lealdade e
companheirismo. Rir junto.
Rede social preferida? O FaceBook me conecta a pessoas
distantes e gosto disso.
Uma mania: Mania de amar. De proteger e cuidar.
Qual a sua melhor lembrança do início de carreira? Quando
percebi que era um ser múltiplo e podia usar rodilhas para diferentes potes.
Em que momento do dia é mais feliz? Pode ser ao descobrir
uma rosa que abriu; ou um encontro de olhos com alguém que amo; ou a comida
pronta e cheirando gostoso e as meninas chegando e dizendo que a comida da vovó
é a melhor.
Por que motivo chorou a última vez? Chorei muito outro dia
ao visitar minha professora Carmelita Fontes, que pela primeira vez não me
disse que eu sempre fui a queridinha dela. Não pode mais... Carmela se foi,
ficou só ali deitada... Chorei rios. Foi sábado passado.
E por que motivo sorriu? Sorrio sempre. Deus me deu o
talento da alegria que vem de dentro. Sorrio muito. Às vezes dou por conta de
mim sorrindo à toa. Por que estou mesmo sorrindo? E aí sorrio mais, sorrio de
mim.
Uma ambição profissional: Fazer bem tudo o que me disponho a
fazer. Minha maior ambição sempre foi essa, amar o que faço e fazer o mais
lindo que posso.
Quem você gostaria de ser se não fosse você mesmo? Gosto de
mim assim mesmo, do jeitinho que sou. Nunca penso quem eu gostaria de ser. Acho
que gosto de ser eu mesma.
E onde gostaria de viver? Gosto de viver dentro de mim.
Gosto de viver em convivência com quem amo. O lugar é o menos importante. Mas
se for perto do mar e tiver muito sol, fico bem feliz.
Última vez que gritou: Ultimamente tenho gritado muito
dentro de mim. Grito pelo planeta, grito pela democracia, grito pela paz. Até
meu silêncio grita.
Uma culinária que faz bem ao paladar: Gosto da francesa, da
italiana, gosto da brasileira. Gosto de quase tudo. Mas adoro comida
nordestina, cuscuz, beijus e sarolho. Adoro farofa.
Você tem medo de que? De aranha, de cobra, de raios, trovões
e ventania fazendo muito barulho. Mas isso não é nada. Tenho medo mesmo é de
ver a terra sendo destruída. Tenho medo mesmo é dos podres poderes que vão
destruindo nossas mais lindas esperanças.
Um cheiro: Jasmim e rosa
Gasta muito com: Ainda é roupa, gosto que me enrosco. Ando
ficando de mal com muito consumo e passo meses, já passei até um ano sem sequer
entrar numa loja. Faz muito bem. Mas cheguei aqui e já saí comprando
coisinhas...
Qual a sua idéia de um domingo perfeito? Com meus filhos e
minhas netas. Hoje, principalmente as meninas - quando estou com elas fico
plena, totalmente feliz e encantada.
Uma lembrança da infância: Muitas lindas. Tive uma infância
maravilhosa. Mas me lembra muito o cheiro de papai (adormeci no colo de meu pai
todas as noites até os 9 anos de idade!). E papai desembaraçando com paciência
os meus cabelos (não havia condicionador quando eu era menina, os cabelinhos
eram lavados com sabonete Phebo mesmo). E os quintais... acho que é isso: pai e
quintal.
Uma palavra: Amor. Sempre amor.
Qual o seu bem mais precioso? Meus filhos. A vida.
Um hábito do qual não abre mão: Minha xicrinha de café
sozinha e sentada no meu cantinho preferido.
Um hábito de que você quer se livrar? Do hábito de ter
muitos hábitos.
Um gosto inusitado: Pensando há horas... não acho nenhum!
Qual o projeto que gostaria de ver aprovado na Câmara?
Proteção absoluta do meio ambiente; projeto que proíba o entreguismo, vender e
leiloar as nossas riquezas a preço de banana de fim de feira.
Memória afetiva: Meus bebês - sou cheia delas
Uma imagem marcante: Ver pela primeira vez as carinhas dos
meus filhos saindo de mim.
O que não come de jeito nenhum: Camarão; sou alérgica.
Um elogio inesquecível: Veio de Carmelita Fontes: “Você
aprendeu tudo o que eu lhe ensinei”
Um livro insubstituível: Sou apaixonada por um livro de um
autor canadense, Robertson Davies: “What’s Bred in the Bone”. Acho que me
marcou demais. Sou também apaixonada por Spinoza.
Que dom gostaria de ter? O dom de iludir. Não consigo. Meus
olhos falam e revelam.
Um filme que sempre quer rever: “Les Enfants du Paradis” e
“La Strada”. Ah, tem um mais recente, “O Paciente Inglês”. Gosto demais.
Que pecado comete com mais freqüência? Fumar... ainda!!!
Vivo saindo e voltando.
Principal qualidade em um homem: Em qualquer ser humano, tem
que ser dignidade, caráter, honestidade. Tem que ter bondade. E inteligência.
Um arrependimento: Nunca me arrependo. Vou mais para o lado
do ‘Por quê’? ‘Como pude’? Aí entendo, me entendo e corrijo se puder. Se não
puder, me redimo.
Principal qualidade em uma mulher: Mesma do homem.
Em que situação vale a pena mentir? Para proteger alguém, a
si mesmo... para aliviar uma dor. Na verdade, odeio mentira.
Lugar inesquecível? “O melhor lugar é ser feliz” (Caetano em
“Aracaju”)
Uma referência: Acho que meus pais, pelo amor e dedicação a
mim. Acho que foi a maior coisa que recebi.
Traição é perdoável? Difícil... difícil mesmo. Mas deveria
ser, se o amor é maior que a traição. Às vezes trai, mas não engana. Sei lá...
é muito complicado.
Em que situação você perde a elegância? Fera ferida. Quando
a gente vira uma fera ferida, perde tudo. Mas, confesso, cada vez menos. Não
menos fera, ou menos ferida; mas controladamente ferida.
O que você faria se não fosse proibido? É proibido proibir.
A não ser que vá ferir alguém ou a natureza. Não gosto de repressão. Acho que
quando a gente se proíbe muito, termina ficando doente ou causando dor.
Qual a sua maior realização? Acho que filhos e netas, mais
uma vez. Gosto dos talentos que Deus me deu, de poder escrever, de cantar, mas
gosto muito de cuidar da minha casa, de cozinhar, de cuidar do jardim, da horta
(me realizo muito assim).
Um sonho de consumo a realizar? Nem tenho... tenho vontades,
conhecer aqui, conhecer ali, fazer isso um dia, mas nunca tive esse tipo de
sonho. “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”. Guimarães
Rosa
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net/thais-bezerra